Quando se fala em estudo da Teologia, vários cristãos e líderes eclesiásticos “torcem o nariz”, reprovação e até forte rejeição. Até mesmo o simples fato de escutar a palavra “Teologia” já é motivo para desconforto no sentido de que nenhum benefício é proveniente dela.
Este comportamento tem sua razão de ser. Por muito tempo, a Teologia se sentiu mais confortável no ambiente acadêmico e universitário do que no ambiente eclesiástico. Isto fez que ela assumisse uma linguagem estranha, difícil e complicada para a realidade da igreja, tornando-se arrogante muitas vezes. As preocupações e assuntos tratados no âmbito teológico eram muito diferentes da situação, dos dilemas e dos interesses da igreja cristã. O resultado disto: cada vez mais Teologia e igreja local foram se distanciando uma da outra, chegando ao ponto de, por diversas formas, uma assumir que “não precisa” da outra, prevalecendo certa arrogância dos dois lados.
A triste constatação descrita acima vem mudando nas últimas décadas. Sinais e diversas ações são percebidas neste sentido. Talvez, seja difícil perceber, mas a igreja local precisa da Teologia e a Teologia tem sua razão de ser ao caminhar junto e servir à igreja local. Sendo assim, em vez de dois polos distintos, igreja e Teologia se entrelaçam, são interdependentes. Por um lado, todo cristão é teólogo, por outro, a Teologia é tarefa do povo de Deus, da Igreja, não de um grupo ou de uma instituição responsável pela educação teológica. Neste sentido, o que no passado poderia parecer muito estranho, hoje se torna o caminho a seguir para uma Teologia que contribui, edifica e serve a igreja. Três apontamentos neste sentido.
Teologia e espiritualidade. A Teologia em nossos dias precisa contribuir para a espiritualidade cristã. Teologia não é conhecimento para o cérebro, alimento do intelecto, assunto da mente. Teologia relevante leva em consideração a espiritualidade cristã, a vida. Espiritualidade não se resume à oração e leitura da Palavra de Deus, mas sim à vida caracterizada como verdadeiro discípulo e verdadeira discípula de Jesus. É importante saber e conhecer os princípios e o conteúdo da mensagem cristã, mas é fundamental viver de acordo com a vontade de Deus e para a glória de Deus. Espiritualidade está relacionada à vida em seu todo, vivida e impulsionada pela força do Espírito Santo.
Teologia e igreja. Por mais que seja relevante o diálogo da Teologia com as diversas áreas do conhecimento científico, a igreja local e a denominação como um todo não podem ser menosprezadas ou esquecidas na reflexão e agir teológicos. Na experiência da igreja primitiva, não havia separação entre o pensar teológico e a vida diária das igrejas. Pelo contrário, a teologia era feita levando em consideração as dificuldades, os problemas e as possibilidades da igreja de Cristo. As Cartas apostólicas foram escritas nesta direção. Até mesmo a difícil doutrina da Trindade vem sendo lida e reinterpretada teologicamente na perspectiva e realidade das igrejas locais. Em vez de um viés acadêmico e especulativo, ela tem dado diversas contribuições para a identidade e para a relevância da igreja em nossos dias.
Teologia e missão. Tanto a igreja cristã como o fazer teológico são dependentes da missão de Deus. Em outras palavras, na missão de Deus está a razão de ser da igreja e da Teologia. Porque Deus tem uma missão para o mundo é que existe a igreja e se faz necessária a Teologia. Tanto a igreja como a Teologia não são fins em si mesmas; elas vivem e estão a serviço da missão que Deus tem e revelou, sobretudo em Jesus Cristo. A missão de Deus se realiza e tem como fundamento a ação redentora ou salvífica do próprio Deus. O objetivo final da missão é a glória de Deus em tudo e em todos.
Para concluir, Teologia para o nosso tempo valoriza as dimensões do “ide” de Jesus, considerando o servir a fim de contribuir para a espiritualidade, igreja e missão. Nas palavras de Jesus, conforme Mateus 28.18-20, temos as seguintes dimensões: 1) reconhecimento da autoridade de Jesus (“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”). Toda Teologia relevante exalta a autoridade e o senhorio de Jesus Cristo, como Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador; 2) “fazer discípulos de todas as nações, batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensiná-los acerca de tudo que Jesus ordenou”. Discípulo é aquele ou aquela que vive como Jesus viveu, aprende com o mestre, vive em conformidade com o que aprendeu e faz aquilo que é a vontade do Senhor. Toda a nossa vida e a nossa vida toda, enquanto cristão e igreja, estão voltadas para quem Jesus é e o que Ele fez e ensinou; 3) Não estamos sós. A promessa que temos é de que Jesus está conosco “todos os dias da nossa vida, até a consumação dos séculos”. A Teologia para o nosso tempo é cristocêntrica. Ela é feita em Cristo, por Cristo e para Cristo, para glória de Deus.
Reginaldo von Zuben
Professor da FATIPI e pastor da 1ª IPI de São Paulo
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