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O que é a igreja (ênfase comunitária)

  • comunicacao299
  • 22 de mar.
  • 3 min de leitura

Em uma pregação em 1968, o pastor galês Lloyd-Jones afirmou que não é possível separar a pergunta “Que é um cristão?” da sua companheira “Que é a Igreja?”. Contudo, diz ele, enquanto há relativo consenso sobre a resposta à primeira, não se pode afirmar o mesmo sobre a segunda.

É nas páginas das Escrituras que encontramos respostas para ela. Na conversa que teve com José, o anjo lhe falou que o filho esperado por Maria seria chamado de Jesus “porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). O apóstolo Pedro afirmou aos destinatários da sua primeira carta que eles eram “povo de propriedade exclusiva de Deus [...] Antes, vocês nem eram povo, mas agora são povo de Deus” (1Pe 2.9-10).

Pode-se afirmar que os autores do Novo Testamento compreendiam que o povo de Deus era formado a partir da relação de cada indivíduo com Jesus Cristo. Assim, os que respondiam em obediência e fé (At 2.38-40), eram inseridos num novo corpo chamado ekkēsia, isto é, a Igreja. Porém, conquanto a resposta à convocação evangélica fosse individual, a vivência dessa fé era comunitária. O texto de Atos diz, logo após o batismo dos primeiros 3 mil convertidos (At 2.41), que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações [e] todos os que criam estavam juntos” (At 2.42, 44).

Sobre isso, o pastor Carlos Caldas, num artigo intitulado Para que serve a Igreja?, afirmou: “os primeiros cristãos estavam conscientes de estarem unidos uns aos outros, porque estavam unidos em Cristo. [...] Era incompreensível que um converso o pudesse ser de forma isolada. Ser um crente significava [estar] em comunhão, estar na ekklēsia.”

O teólogo reformado Louis Berkhof afirma que o Novo Testamento utiliza algumas figuras para descrever a Igreja. Além de povo de Deus, ela é a “Jerusalém espiritual” (Hb 12.22-23), isto é, a Jerusalém do Antigo Testamento agora reinterpretada como a habitação de Deus, lugar da comunhão do povo da aliança com seu Senhor. Outra figura é a Igreja como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15), ou seja, a guardiã do Evangelho contra todos os inimigos do reino de Deus. Podemos dizer: até mesmo contra o individualismo.

Uma das figuras mais conhecidas é “corpo de Cristo” (1Co 12.27), designação que põe em relevo a unidade da Igreja em sua relação vital com o cabeça, que é Cristo, e entre os membros do corpo. Como cabeça, Jesus é o governante supremo (Cl 1.18), interliga seus membros uns aos outros (1Co 12.12-14) e concede dons para a edificação mútua (Ef 4.11-12, 15-16).

A figura do corpo ressalta o caráter comunitário da Igreja. Isso não é uma particularidade do Novo Testamento, pois é possível visualizar, já no Antigo, a ideia de que o povo de Deus vivenciava a sua fé comunitariamente. O próprio texto utilizado por Pedro em sua carta (1Pe 2.9-10) é uma citação de Êxodo 19.5-6, onde Deus fala a Moisés os termos da aliança com o povo de Israel, recém libertado da escravidão.

Conforme o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, no termo “Igreja, Sinagoga”, o Antigo Testamento emprega duas palavras para descrever os crentes de Israel. A primeira é qahal, que corresponde a assembleia ou ajuntamento do povo de Deus (Êx 12.16, 14.6), geralmente traduzida como ekklēsia (“igreja”) na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento. A segunda é ‘edhah, que corresponde a congregação ou comunidade de Israel (Êx 35.1; Js 18.1), usualmente traduzida por synagoge (“sinagoga”). Essas duas palavras expressam a reunião de um povo em comunhão, servindo e cultuando ao seu Deus.

Quando cantamos “Vem e sopra sobre nós teu sopro, / Reunidos neste ajuntamento” (CTP n° 9), “É o teu povo aqui presente / Todos, numa só voz, declarando que só tu és grande” (CTP n° 8) ou “Queremos o teu nome engrandecer, / E agradecer-te por tua obra em nossa vida” (CTP n° 88), estamos expressando o ensino bíblico do caráter comunitário do povo de Deus. “Em nossa vida” como corpo e não membros avulsos! Essa compreensão vem desde o antigo Israel e fez parte da vivência da fé dos primeiros cristãos e das muitas gerações que os sucederam até os nossos dias.

Diante do individualismo característico dos tempos atuais, é necessário resgatar essa crença e prática. A “destra da comunhão” (Gl 2.9) significa mais do que estender a mão e cumprimentar nosso irmão ou irmã com a paz do Senhor. Antes, é efetivamente vivenciar a comunhão do Espírito Santo (1Co 13.13) na vivência comunitária da fé, desde os que mamam aos adultos (Jl 2.16), pois viver na luz do Evangelho, como afirma João, implica viver em comunhão uns com os outros (1Jo 1.7).

 

 

Rev. Enilson Elias de Castro Monteiro

Professor da FATIPI e coordenador do curso Bacharel em Teologia a distância. Membro do Presbitério Vale do Paraíba.

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