“Mas, entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos”. Marcos 10,43-44.
Liderar é algo que se faz enquanto caminha, enquanto se faz. Liderança, não é uma ação estática, onde um manda e os outros obedecem. Liderança é uma construção no meio do povo. Liderança não é uma imposição, mas uma conquista.
Quando pensamos em liderança, pensamos em vários modelos bíblicos. Josué, Neemias, Daniel, Paulo. Todos têm a sua contribuição nessa área, mas, Jesus é o modelo, pois, inaugurou um novo paradigma de liderança.
Quando olhamos para Jesus, nos evangelhos, para seus ensinamentos, para suas práticas, vemos uma liderança que se dá através do serviço. Não é uma liderança baseada somente em ensinos, regras, manuais a serem seguidos. Mas, uma liderança servidora, por meios de ações concretas.
Servir é procurar atender as necessidades dos liderados. Não significa satisfazer as suas vontades, mas de lhes fornecer aquilo que eles realmente precisam. Para isso, é necessário cuidarmos dos nossos relacionamentos. O bom líder é aquele que mantêm relacionamentos saudáveis pautados no respeito e responsabilidade. O verdadeiro líder é aquele que não vive na busca de satisfazer as suas vontades, mas no empenho de fazer o bem para os outros.
No evangelho de Marcos encontramos alguns elementos dessa liderança diaconal de Jesus, que são fundamentais. O evangelho de Marcos(cap.8-10) trata do desafio para o seguimento de Jesus na perspectiva da cruz. É a caminhada de Jesus em direção a cruz. Por três vezes Jesus faz referência a sua paixão (Mc.8,31;9.30;10.32). Os discípulos tinham dificuldades em aceitar o sofrimento como parte da missão do messias. Na primeira vez que Jesus anuncia seu sofrimento e morte, Pedro o chama de lado e o reprova (Mc 8.32). Jesus foi duro com ele, dizendo: “afasta de mim satanás...” Mc 8.33
Para o evangelista Marcos só entendemos a missão de Jesus na perspectiva da cruz, ou seja, do serviço. Os discípulos buscavam o caminho da glória e não da cruz. Os discípulos discutiam entre eles quem seria o primeiro, mas Jesus, sabendo o que estavam conversando disse: “...Se Alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos.” (Mc 9,35)
Em seguida dois de seus discípulos querem a primazia dos melhores lugares ao lado de Jesus (Mc 10.35-45). Jesus novamente chama os discípulos e ensina: “Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas, entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.”
Jesus inaugura o seu reino com uma regra pétrea, como escreveu Gaede Neto, no seu livro “Diaconia de Jesus”: “Servir é o papel de quem lidera na comunidade.” E, Jesus se coloca como o modelo a ser seguido: “porque até o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.” Mc 10.45
Diaconia é uma palavra grega, utilizada cerca de cem vezes no Novo Testamento, que significa serviço ou ministério. A diaconia refere-se a todo serviço que se presta a Deus, e, em sentido mais específico, ao serviço na comunhão da igreja em favor dos irmãos/ãs e do próximo. Neste sentido, diaconia é missão da igreja. Toda a igreja precisa compreender que fomos chamados para servir, para sermos diáconos/as, ou seja, eu estou pastor, mas sou diácono. Nosso chamado primeiro, seguindo os passos de Jesus, é para o serviço.
Precisamos sempre falar e praticar, pois diaconia é essencialmente prática. Diaconia não é um serviço que é feito se der para fazer, diaconia não é um ato secundário na vida da igreja, diaconia não é uma tarefa para alguns, diaconia faz parte da espiritualidade e da missão da igreja, diaconia é obediência ao chamado de Jesus.
É interessante que na relação dos dons espirituais derramados sobre o povo de Deus, ou seja, a Igreja, não tem o dom de diaconia (Rom 12 / 1º Cor 12 / Ef 4). Encontramos o dom de socorro ou misericórdia, que certamente todo diácono/a deve buscar em Deus. Mas, não literalmente o dom de diaconia. Isso significa que diaconia ou ser diácono e diaconisa é um chamado para todo cristão e cristã. Quem recebeu a Jesus como salvador e senhor de suas vidas é um diácono ou uma diaconisa.
Portanto, diaconia não é um dom, mas o jeito de ser da igreja. isso implica também dizer que diaconia faz parte da espiritualidade da igreja. É a igreja seguindo os passos de Jesus, o diácono por excelência. Em Jesus, duas coisas define o ser cristão: a) Amar a Deus; b) Amar ao próximo (Mt 22. 34-40), portanto, tudo o que faço para Deus e para o próximo é diaconia, é serviço, motivado pelo amor.
Os apóstolos, em Atos capítulo 6, quando disseram que se consagrariam a oração e ao ministério da Palavra, no original diz: “...e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e a diaconia da palavra.” Ser cristão e cristã é ser necessariamente um diácono ou diaconisa.
Outro significado para a Palavra diaconia é ministério. Tudo é serviço a Deus e ao próximo. Portanto, para qualquer crente, salvo em Cristo Jesus, antes de ser um profissional na sua área, ele é um servo ou serva de Deus, antes de ser professor/a, é um diácono/a de Deus, antes de ser pedreiro/a, é um diácono/a de Deus. Antes de ser engenheiro/a, é um diácono/a de Deus. Antes de ser advogado/a, é um diácono/a de Deus. Antes de ser um pastor/a, presbítero/a, somos diáconos/as, somos chamados para servir!
Por isso, a Igreja que não serve, não serve. Não tem sentido de ser, não pode ser chamada de Igreja de Jesus, pois fomos salvos e vocacionados para servir.
Rev. Marcos nunes da Silva
Professor e diretor da FATIPI
Pastor da IPI de Vila Carrão
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